Uma das coisas que mais me chamou atenção em Munich são as marcas da guerra, ou melhor da pós guerra, pois tão traumático como o terceiro reish foi dividir o país ao meio. Porém admirável, pois em 60 anos a Alemanha já voltava à ser uma potência no cenário mundial, e atualmente o Euro só tem a força que tem devido a Alemanha e a França.
No caminho de ida para o Hotel, eu ouvi o pessoal conversando que o Holliday Inn era próximo do metrô U3, caso acontecesse alguma coisa nós já saberíamos para onde correr. O local de encontro foi em frente ao carro, no estacionamento subterrâneo às 21h45. Nós nos separamos logo no início onde cada um foi comprar o que lhe interessava, e eu estava doido por uma máquina digital.
Fui até a loja O2 que é uma espécie de Lojas Americanas da Alemanha, e procurei o melhor custo benefício, o atendente, falava muito bem inglês e estava me ajudando, com o que fosse possível. Seu nome era Lehman (fala-se Liman) e ao ver que ele gostava de rocky comecei a puxar assunto com ele, até para treinar seu inglês, porque não é todo mundo que tem paciência para falar com um semi-analfabeto. O tempo passa e quando dou por mim, 21h20, pronto me despedi correndo e fui até o ponto de encontro, na rua fazia -14 graus e eu estava com a boca dormente, dando a impressão que eu havia acabado de sair do dentista. Minha calça encostava gelada a cada passo, e meus pés eu já não sentia mais.
Ao entrar no estacionamento subterraneo meu nariz começou a sangrar, devido ao ar seco, é estranho, mas lá o ar é seco e gelado. Sentei-me na frente do carro e fiquei aguardando, conforme o vento entrava por uma saída e ia até a outra eu congelava, meu nariz começou a jorrar sangue nesta hora. O tempo passou era 22h40 e pensei que eles não iriam vir mais, levantei-me e percebi que estava na frente do carro errado, eles já haviam ido embora e eu ainda estava lá.
Não fiquei desesperado e fui até o metrô e perguntei, onde eu poderia tomar o trem que iria até a estação U3, ele então me respondeu que U3 não era uma estação e sim uma direção. Subi a escada e perguntei para a moça se ela poderia me dar o intinerário até o endereço que eu tinha, e ela prontamente me deu. Só tem um probleminha, tudo em alemão. Eu então comecei a procurar palavra por palavra pra saber se era um artigo, um substantivo ou o que quer que seja, para que eu encontrasse o nome da estação que tinha que descer. Até que um senhor se aproximou de mim e perguntou em inglês: -Posso te ajudar? – Claro!
Então ele leu a carta pra mim e disse para eu pegar o trem na plataforma amarela. Passado alguns minutos o trem chegou e eu entrei no mesmo. Porém a estação que veio a seguir não era a “mahetaller” como deveria ser, então eu pedi ajuda a uma menina que me disse para voltar a estação que eu estava, e esperar o trem S8, aí reparei que na mesma plataforma passam diversos sentidos de trem, não é como no Brasil que um vai para a Zona Sul e outro pra Zona Norte. Achei a estação mas ainda tinha muita coisa escrita em meu intinerário, chegando na estação que eu deveria descer, sairam apenas um casal com um bebê de colo e eu. Que olhei para um lado e vi neve, olhei para o outro e vi neve também, aí o rapaz virou para trás e perguntou:
- Yes you can! (sim, pode)
Ele leu o intinerário, apontou para um onibus e disse para eu correr, pois ele estava apenas me esperando. Corri, de fato corri muito atras do ônibus, chegando no ponto entrei, sentei-me e dei o papel todo molhado para o motorista ler, ele não falava inglês mas eu consegui compreender que ele não conhecia o local. Puts, pensei agora Fu... de vez! Sentei no ônibus e o motorista pediu informação para a central, o rádio da central estava alto e só conseguia entender uma coisa que eles falavam: -Naim, nain, naim! (não, não, não) Nesta hora me bateu uma angústia e comecei a chorar, rezei muito pedi ajuda a Deus, como eu podia ficar perdido em uma exposição, neste frio e eu com roupas do inverno de São Paulo, que nem se compara ao inverno europeu! Eu fiquei imaginando onde eu iria dormir? Será que encontraria o Hotel, ou ao menos um lugar quente para dormir? O ônibus foi enchendo, e eu ia perdendo minhas esperanças, quando um casal levantou e apontou à direita, falando:
- Holliday Inn, apfelstrudel volkswagen hoist!
O motorista respondeu:
-Apfelstrudelvolkswagen hoist brazilianer!
Nisto o casal virou para trás e falou:
-Você é brasileiro?
-Sim!
-De onde você é?
- De São Paulo, mas eu moro no Rio.
- Que legal, eu sou do Rio e ele é de São Paulo. Vamos, nosso ponto é o próximo. Seu Hotel fica ao lado de nosso apartamento.
Nossa eu não sabia o que fazer, o relógio já apontava 23h40 e eu perdido na rua, sendo que o ônibus e metrô param de circular às 00h, naquele momento senti algo estranho, espero que você já tenha tido está impressão, mas senti que o mundo girava pra mim, que era só eu pedir com fé que ele enviaria os anjos dele para me resgatar e me deixar na porta de casa. Ao me deixarem na porta do Hotel eu falei:
-Não sei nem como agradecer! Aliás eu acho que não tenho. Porque vocês são pagos para isto.
-Pois para mim, eu vou entrar por aquela porta e vocês abriram as asas e saíram voando.