segunda-feira, 28 de abril de 2008

O Valor do Esporte

Lembro-me certa vez em uma de minhas proteções de São Paulo em território carioca, quando no trabalho ouço a seguinte pergunta:- Berry White fez uma música sobre o Rio de Janeiro. Quem já fez música sobre São Paulo? Fiquei sem saída nesta e retratei em tom de ironia. – Frank Sinatra!!!
Mas em verdade recebendo e tendo uma troca de cultura tão grande hoje em dia, consigo entender melhor o que o Titãs quis dizer com a frase: - Um idiota em inglês é bem melhor do que eu ou você. Esta é a mais pura verdade, garanto que este rapaz que me perguntou isto não deve dar valor algum ao Caetano Veloso, porém quer goste ou não das músicas de Caetano. Devemos aplaudi-lo em pé. Foi exilado, caçado em seu próprio país, pois pregava o movimento “Sem lenço, sem documento” e acolhido a alguns quilômetros da Irlanda. Portanto você sabe por natureza quem foi e quem é Caetano Veloso, pois assim como eu, você também é brasileiro, e quem é Berry White? Bom sem entrar no Google eu não possuo informação alguma dele, e nem sei se escrevi o nome dele corretamente mas apenas posso dizer que é um músico talentoso.
Outra curiosidade que me chamou muito atenção foi: Responda rápido, qual a maior torcida do mundo?
Flamengo? Corinthians? Mas nem de perto. Se considerarmos, torcedores residentes do próprio país sim são estes os nomes, mas se falarmos de mundo. O Manchester United, possui 342.000.000 de torcedores, muito a frente de qualquer clube brasileiro pode acreditar, o trabalho de marketing feito pelos clubes europeus, é uma aula, na China, a grande maioria da população torce pelo Manchester, e este número não é mensurado. Assistir um jogo da liga dos campeões em um PUB, nos dá a sensação de estarmos em um estádio, muita cerveja, cada jogador possui sua canção própria, é empolgante, até a Clara, gostou da experiência, o problema é o “sovaco” da galera.
Eu acredito que para entendermos a cultura de um povo é necessário vermos suas propagandas, analisarmos sua fé e vermos seus esportes favoritos, por este motivo acho cabível, você ficar sabendo também das coisas que rolam neste cenário.
O Rugby é um show a parte, há dois meses ago, estava passando a copa das “seis nações”, este é um dos mais importantes torneios de rugby do mundo: Itália, França, Irlanda, Escócia, Gales e claro a Inglaterra, disputam este torneio, a cada jogo as pessoas saem com trajes típicos de seu país, os escoceses todos de “kilt” (uma saia xadrez) os Italianos, de “centuriões” com as saias romanas e elmo, os Galeses, de vermelho (acho que deve ser referente à cor de seus cabelos) agora o estranho é que tanto a França quanto a Inglaterra eu não vi nenhuma fantasia. A torcida vai no jogo mais pra festejar do que necessariamente para ver uma vitória de seu time, todos, com exceção dos dois que citei acima.
França e Inglaterra têm sua história marcada por desavenças ao longo dos tempos, separados pelo canal da mancha, estes países simplesmente não se toleram. O idioma usado no mundo de negócios é o inglês, não importa sua língua, se você pretende viajar, se relacionar globalmente você precisa falar o idioma da Rainha, mas também creio que seja por praticidade, aprender inglês é muito fácil. Porém a França reluta contra esta verdade, em geral sua população entende inglês e muitos o falam bem, mas em sua terra, evitam ao máximo falar o idioma, mas de pouquinho em pouquinho estão cedendo.
Assim como será muito difícil os flamenguistas aceitarem que não são a maior torcida do mundo, e me dói dizer isto, mas eventualmente os ingleses vencem.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Verde, Branco e Laranja

A influência da Inglaterra na Irlanda é muito grande, quanto mais tempo convivo com a população e conheço também alguns lugares, reparo traços de uma colônia explorada à muito tempo. A Inglaterra fica a três horas de barco da Irlanda, particularmente ainda não tive oportunidade de conhecer a terra da rainha, mas nao estou com tanta vontade. Sempre ouvi dizer que os Estados Unidos adoram guerra, mas pense em uma guerra, qualquer uma delas. Com certeza a Inglaterra está no meio, até mesmo a guerra dos farrapos, a guerra do Paraguai, não interessa qual seja, o dedo inglês sempre está presente. Portanto creio que o gosto por guerras dos Estados Unidos foi herdado de sua matriz e colonizador.
Visitei este final de semana, um dos lugares mais bonitos que já fui. Não mais que uma hora de caminhada em uma subida muito Íngreme e lá estávamos nós, Clara, Síndico e Eu, no alto de uma montanha de frente para o mar sem ondas, e com as flores começando a brotar em cada árvore testemunha das milhares de batalhas que já aconteceram naquele local. Li uma placa em jubilo da Rainha Vitória, neste local, que o nome não poderia ser mais propício: Vitoria’s Hill (Vale ou colina da Vitória, neste caso vale).
A jardinagem é um dos principais passatempos dos ingleses, e este bom hábito foi muito desenvolvido na Irlanda também, passo por um parque todos os dias no caminho do trabalho para a escola e vejo um jardim fantástico. Crianças correndo pra lá e pra cá, velhinhos dando comida aos patos, algumas partidas de futebol ou rugby e flores, muitas flores. Agora estamos no horário de verão, embora sol mesmo só vez em três dias desde o dia de minha chegada, mas o astro rei demora a se pôr a partir das seis da tarde e lentamente se arrasta até as oito da noite, para dar prioridade a iluminação de outro canto de nosso planeta.
Na volta da aula, para em frente à ponte do rio Lifey, que prometo tentar tirar uma foto, assim que a multidão se recolher em suas casas e postar no blog. Nesta vejo prédios baixinhos e antigos, mas muito bem cuidados, e as luzes dos mais de 20 PUBs que cercam esta região refletindo no rio, que ironicamente segue em sentido a Inglaterra, e também é a origem do nome da cidade. Dublin vem do gaélico (língua nativa irlandesa) Lago escuro, devido á uma área em especial do rio que forma uma espécie de baia. Está provavelmente será minha principal memória, quando chegar ao Brasil, o tempo que eu cruzava o Lifey, olhava seu reflexo e agradecia a Deus por mais um dia de vida.

domingo, 20 de abril de 2008

Pamonha em Família

Se eu tivesse um desejo, apenas um. Eu desejaria que minha família estivesse aqui, ou que eu estivesse lá, neste final de semana em especial. Acho muito difícil que um brasileiro não conheça a “pamonha”, portanto irei dizer, de forma mais clara.
Em minha escola sempre achei o máximo pessoas que tinham um sobrenome bonito, muitos deles com berço italiano, devido à influência deste país na cidade onde nasci. Quando a pessoa era chamada pelo sobrenome então, eu achava muito chique, dava uma importância a aquela pessoinha que neste caso tinha não mais que sete ou oito anos, e ficava pensando, por que eu não era assim? Por que eu me chamava Lopes de Lima? Lembro-me de um trabalho que tive que fazer na terceira série, sobre árvore genealógica, nesta você tinha que buscar informações de toda sua família. Eu fiquei frustrado ao tirar a nota, 5,0. Não entendia o critério que a professora usara, será que para ela minha família era nota cinco? Mas na verdade minha nota foi tão baixa, porque eu só cheguei até minha avó por parte de mãe, e até meu bisavô por parte de pai. Não sei nada sobre a origem de minha família e isto em geral me deixa chateado, pois adoro história e não saber de onde se vem, é frustrante.
Com o passar do tempo reparei que família, é o coletivo de pessoas. Você pode ter irmãos mesmo que não seja de sangue, mas considerar muito próximo tanto quanto um irmão legítimo, principalmente quando se vê esta pessoa crescer. Eu mesmo tenho um. Ter tios e tias em cada vizinho, que você sente mais carinho e eles sintam o mesmo por você. Nisto devo admitir, tenho muitas pessoas que me consideram sobrinhos, mas o que mais me espanta é a quantidade de mães que tenho por aí, se eventualmente alguns vizinhos me têm como sobrinho, quem dirá de meus verdadeiros tios e tias que me têm como “filho” e eu também os tenho como legítimos pais. Não gosto de citar nomes, pra não cometer nenhuma injustiça, mas da Tiana eu tenho que falar.
Pouco a pouco, as pessoas fracas, ou que não tiveram tanta determinação aqui, começam a voltar para o Brasil, é difícil se ver pobre, marginalizado, excluído, pessoas mudando de calçada com medo de você pedir dinheiro, quando se tem um ótimo padrão de vida no Brasil, como é o caso da maioria dos brasileiros aqui. Muitos playboys, filinhos de papai, pessoas que nunca pensaram em trabalho no Brasil, vem pra Irlanda e descobre “A vida como ela é”, e claro muito não gostam, voltam e ainda falam mal do país que o acolheu. As mulheres são as mais impressionantes, ou são forte e guerreiras de mais (como é a maioria) ou simplesmente, virão prostitutas, repare no detalhe: viram prostitutas, ou seja, em sua terra natal, elas não eram assim, porém aqui se vê em uma situação e descobrem um jeito muito fácil e hipócrita de ganhar a vida, e muitas delas têm a esperança de conhecer um europeu, e ele se apaixonar por ela e lhe conceder um passaporte europeu, digo um casamento, ou uma família se preferir.
Portanto vendo este tipo de pessoa, que vende sua família, por dinheiro, suja o nome de seu país e deixa infelizmente todas as brasileiras com este rótulo, mesmo sendo mentira (eu volto a repetir) eu escolho a “pamonha”, uma massa de milho, onde os mais velhos temperam, os homens descascam e ralam, as mulheres também ralam, porém são muito melhores, para encher a palha com esta determinada massa e colocar um queijinho, pra dar um gosto. Como diz a Vó Maria. Se você tem uma família, nunca tenha vergonha de seus hábitos e costumes, pois o que pode ser ridículo pra uns, pode ter um valor enorme para outros.
A!!! E que vontade de comer uma pamonha!

terça-feira, 15 de abril de 2008

Falando com quem não fala

A Dame Street é uma rua que possui um charme aparte. Rodeando a região do “Temple Bar” este é um dos PUBs, mais velhos do mundo, segundo informações recebeu autorização para funcionamento em 1600 e bolinha, porém há registro de seu funcionamento muito antes disto. Voltando a Dame Street, esta sai do “Trinity College” e segue rodeando o bairro de maior agitação noturna da cidade, seus bares, restaurantes e cafés, os dão um ótimo ar europeu, embora o Temple Bar seja o mais famoso, e porque não o carro chefe deste bairro, outros PUBs na mesma rua, são mais moderninhos, tendo o “Fitzsimons” diz a lenda que o dono do bar é o Bono Vox, particularmente eu nunca-o vi e nem li eu só ouço falar, (me desculpe pela frase de Zeca Pagodinho) mas este é um PUB muito moderno e badalado. Bebendo na Irlanda é necessário se ter noção que em geral uma Pint (copo relativo a 500ml) custa € 5,50 e a Jarra custa € 10,00 (relativo a 3 pints) desta forma a brasileirada que está acostumada a no Brasil, sair e encher a cara, aqui se vê em uma realidade muito diferente. Não beber a cerveja porque ficou quente? Nunca! Cada 100ml dela custa € 1,10. Mas beber rápido também é fora de cogitação, você não pode ficar em uma baladinha, sem um copo na mão, com cara de dois de paus. Então o legal é saber fazer o meio termo entre a temperatura da cerveja e a média que está fazendo no recinto.
Já na aula, estou aprendendo “Particípio do passado” olha eu em português, só me lembro deste conjunto de letras, em uma musica do “Legião Urbana”. Agora imagina em inglês? Não estou entendendo ao certo a nomenclatura, mas ter aula de gramática é um saco. Porém preciso, afinal de contas não quero escrever em Inglês da mesma forma que escrevo em português.
A pesar da reclamação, cada vez mais as pessoas me entendem e eu consigo entender melhor também, não tenho mais medo de uma eventual pergunta e eu não souber o que dizer, tenho muito mais segurança. Tenho aprendido muito com o pessoal do meu trabalho, em especial com o Marcelo, (que me ajuda muito em vocabulário) o Tim (me ajuda com a gramática e pronuncia) e o Dave (que responde todas as dúvidas que tenho, relativas ao idioma claro, ele não é o Google).
A Clara também está se desenvolvendo, agora ela começa a se soltar mais, tentar falar, mesmo que errado e assim se virando. Hoje foi a primeira entrevista dela de emprego. A empresa se chama “Pure Graphics” trabalha com grandes formatos, acho que ela foi bem, para ficar na primeira entrevista é muito difícil. Mas quem sabe né? O trabalho é do lado da nossa casa, parece ser um bom ambiente. Agora no trabalho é que você desenvolve o inglês, ficar aprendendo past tense, past perfect é ótimo para quando se tem conversação, agora enquanto isto não acontece, recomendo, assistir filmes, com legenda em português e logo após com legenda em inglês. É como tentar ensinar gramática a uma pessoa antes dela começar a entender o significado das coisas.
Meu amigo Síndico passou por uma experiência não muito oportuna aqui em seus primeiros dias, e espero que eu já esteja íntimo de você para contar está estórinha.
Ao entrar no ônibus, o motorista o indagou, por existir três tipos de tarifa diferente:
- Where are you want to go? (Onde você quer ir?)
-Sorry??!! (Desculpe)
-What place do you Will leave the bus? (Que lugar você irá saltar do ônibus?)
-Sorry??!! I don´t understand (Desculpe, eu não entendo)
O motorista se alterou e começou a gritar.
- Where are you go? (Onde você vai?)
- Nice to meet you! (Prazer em conhecê-lo!)
Gritou mais alto:
-Where are you go? (Onde você vai?)
-Sorry, nice to meet you! (Desculpe, prazer em conhecê-lo)
Neste instante uma estudante brasileira o ajudou e respondeu para o motorista. Ao contar esta história ele disse que só tinha mais uma frase em seu vocabulário. Fuck you! É exatamente assim que se aprende, quebrando a cara.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

A língua do Corpo

Antigamente o que mais tinha dificuldade, era quando falavam comigo. Eu não entendia, e ficava em minha mente imaginando o que a outra pessoa havia perguntado, desta forma formulava uma idéia e assim seguia. Porém agora eu já consigo entender uma boa porcentagem de cada frase, e o problema maior passa a ser a formulação de uma frase para a resposta adequada.
Vejo nitidamente este problema com a Clara, fico me sentindo mal, por fazer ela se virar, mas creio que assim seja a melhor maneira de aprender o idioma. O sentimento de superação torna-se freqüente, e a ansiedade, o desejo de aprender de uma vez começa e te sufocar. De fato acredito que exista uma espécie de “Click” ou algo do gênero, nele você começa a entender melhor a língua, porém em quanto isto não ocorre, nós desenvolvemos uma habilidade muito maior que entender “línguas” nós passamos a entender “pessoas”. Prestamos atenção em cada movimento, em cada detalhe, mesmo que subconsciente e assim aprendemos a nos comunicar.
Estava sentado, ao lado de meu fiel escudeiro Síndico, quando o Liverpool empata a partida da Premier League contra o Arsenal, nós comemoramos muito pois o Liverpool é o time que escolhemos para torcer, uma vez que os irlandeses torcem para times ingleses e todo mundo em meu trabalho torce para o time dos Beatles, resolvi aderir a moda. Quando avistamos a primeira bonita cena do dia. Esta largou sua mochilinha e correu muito furando filas e desviando dos grandes obstáculos que apareciam em sua frente e pulou, abraçou com muito carinho, um rapaz que provavelmente seria seu pai. Vendo o brilho em meus olhos, meu amigo me diz:
-Calma, ela já está chegando.
Fiquei exatamente 15 minutos em pé a frente do monitor que avisa a chegada dos vôos, para agregar mais uma palavra a meu vocabulário em inglês, uma que na verdade eu deveria saber, mas não gostaria de aprendê-la desta forma, pois sempre que ouvir irei lembrar de seu real significado. “DELAYED” Que quer dizer, você terá que esperar mais um pouco, mas duas horas, pra ser mais exato. Não deu tempo nem de eu ficar triste logo o monitor mudou novamente e agora em apenas trinta minutos estaria em solo. Tomo um café, assisto mais um pouco da partida e eis que surge uma palavra linda em inglês, “Landed” que quer dizer: Pronto, agora sim! Alguns minutos de tensão e vi uma garotinha, baixinha, saindo com um monte de mala e de blusinha. Só podia ser ela, demos um abraço, talvez o mais bonito que já demos, forte e sem os populares “tapinhas”. Nesta ouvi apenas uma frase de meu amigo:
-Nossa eu estou emocionado.
Esta noite minha namorada me fez uma pergunta muito legal, enquanto voltávamos da escola.
-Du, você fazia todo este caminho sem ninguém pra conversar, toda a noite?
-Na verdade não, Deus é um bom companheiro, mas prefiro quando estamos nós três.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

No hall do Aeroporto

Poucos lugares no mundo passam uma mistura tão grande de sentimentos e desejos, poucos lugares nos proporcionam a forma de aprender com nós mesmos como em um aeroporto.
Quando recebi o ticket de passagem para a Alemanha em janeiro de 2005, este não havia especificações, apenas alguns números jogados, 2210 e 0715 ainda me lembro dos números, sendo assim cheguei ao aeroporto de Guarulhos, muito cedo, por volta de umas 5h da manhã, para fazer o check-in, após ficar na fila por muito tempo finalmente chegou minha vez. Entreguei minha passagem e a moça me dissera que não pudera fazer o check-in de minha bagagem, pois meu vôo ainda não havia aberto. Achei estranho e questionei:
-Ué, mas não é pra fazer o check-in duas horas antes?
-Sim duas horas antes, mas o senhor está muito cedo.
Então reparei que havia confundido o número do vôo com o horário, e só iria embarcar às 22h10 minutos, nossa, foi cansativo. Então sai da fila com cara de ... e procurei um lugar mais confortável e algum passatempo à fazer, em verdade aquele aeroporto é muito pequeno. Fato: o principal passatempo do gordo é comer, e não estou falando do gordo convencional, e sim do gordo de cabeça, como realmente era muito nesta época. Fui procurar um lugar pra tomar um café da manhã, e logo terminado, não havia mais nada para eu fazer, a não ser esperar. Sento-me na poltrona, olho para o relógio 8h30, e vagarosamente pego no sono, neste durmo aproximadamente umas duas horas em minha imaginação, porém quando olho no relógio novamente, 8h40, nossa que tédio. Comprei algumas revistas e fiquei lá na minha sentadinho lendo. Até que me bate o desespero.
-Aí meu Deus, preciso ir ao banheiro!
Mas o que fazer com as minhas malas? Elas não cabiam no banheiro normal, foi quando eu avistei o banheiro de deficiente. Todo grande, cabendo eu e minhas duas malas, sem pestanejar disfarcei e entrei com o carrinho da bagagem dentro do banheiro. Começo o serviço e ouço um rapaz com um sotaque mais pra cima de nosso país dizendo:
-Ei! Menino, eu vi que você entrou aí. Você não é aleijado não vamos, sai daí logo que eu tenho que trabalhar!
Cara eu não sabia o que fazer, o maluco gritando na porta do banheiro e eu lá dentro pensando em sair pela descarga de vergonha. Deixei o indivíduo parar de falar, ouvi o silêncio na parte de fora e saí com a cara mais amarela do mundo.
Como não tinha mais o que fazer, sentei-me próximo a parte de desembarque de vôo internacional, e fiquei reparando nas pessoas que chegavam e na expressão das mesmas, os que ficavam com papelzinho na mão normalmente davam apenas um aperto de mão, porém o emocionante era ver as pessoas mais velhas ou as crianças na espera de alguém. Muitos não continham a ansiedade e entravam na área dos passageiros, principalmente as crianças, o abraço era a coisa mais sincera que tem, pois só vai te levar ou te buscar no aeroporto quem está contando os segundos pra ficar com você. Foi assim com algumas pessoas da minha família que foram me acompanhar só para ficar mais uns 30 minutinhos comigo. Parece idiota? Mas creio que na verdade seja a coisa mais sábia a fazer, tanto que os mais velhos (mais sábios) e as crianças (mais sábias ainda) é que sentem esta força. Portanto se você ama alguém, deve lutar pra ficar próximo desta pessoa o máximo possível, e seja um dos primeiros a lhe mostrar um abraço (pois quando se está abraçado, é a menor distancia que pode ocorrer entre o coração de duas pessoas), que neste caso significa: aqui você tem um Lar.
Sábado, pontualmente ao meio dia lá estará eu, no Hall do Aeroporto, sem papelzinho, sem aperto de mão, mas com um grande abraço a esperar. Sei que minha casinha aqui não é grande coisa, mas é a maior que eu posso ter, e sendo “pequena” é um lar.
Obs. Alguém já disse que te ama hoje?

Paulinho
paulo.e.lopes@globo.com

quarta-feira, 2 de abril de 2008

De volta ao rio Lifey

Chegando ao aeroporto tive certa dificuldade para entrar na terra cinza, o moço da imigração não parava de me fazer perguntas sobre de onde eu vinha e assim por diante, checou até mesmo com a imigração se realmente constava meu registro. Após passado uns dez minutos no guichê, consegui entrar.
O mais revoltante e o pessoal “ramelento” que existe em outras nações e entram sem problema, aliás, sem dúvida alguma o lugar mais temível da Irlanda é o escritório de imigração, uma sala enorme com mais ou menos 300 cadeiras de espera e claro, pelo tamanho da fila de espera você tem uma noção de quanto tempo demorará na fila, se tiver água então, ferrou, certamente você ficará lá o dia todo. Ainda me lembro quando cheguei para tirar meu visto, precisava do statment (extrato bancário), porém este deveria ser enviado por correio, neste extrato deveria contar no mínimo o saldo de €1000,00 e eu retirei minha senha, 173, era meu numero, e abaixo dizia: Existem apenas 116 pessoas na sua frente. Sentei e fiquei aguardando alguém chamar meu número. Um povo estranho, eles peidam sem a menor cerimônia, como se fosse algo normal cagar na fila, comer meleca também me parece um hábito natural de diversos países cuja não citarei nome, para não ter problemas com consulados. E ali bem no canto, você avista outro compatriota, é muito fácil reconhecer brasileiro, em geral eles andam diferente, tem uma mistura meio parecida com os espanhóis ou italianos, mas neste local é mais fácil ainda, apenas aviste quem não está comendo meleca. Este é brasileiro!
Peguei o ônibus e após determinado tempo cheguei no Spire, (tipo um poste gigante que tem no meio da cidade, que só serve de ponte de encontro) encontrei meu amigo Sindíco, que me dera uma ótima notícia, achara trabalho, um trabalhinho bem modesto é verdade, mas ainda sim já é um dinheiro que entra na sua conta. Com € 500,00 por mês não dá pra se manter aqui, porem ao menos dá pra pagar as próprias contas e a partir de agora será com estes quinhentinhos, que ele deverá se manter. Mas o bicho não é mole não, mesmo com emprego, ele continua procurando outro que receba melhor e que não seja tão sacrificante, por falar em sacrificante.
Bem para quem não sabe eu terei uma companheira de aventuras muito em breve, a Clara minha namorada irá vir pra cá, estou acostumado a dar tudo do bom e do melhor à ela no Brasil, porem aqui mal tenho dinheiro pra me manter, quem dirá manter a duas pessoas, com meu salário de €800,00 (mais ou menos uns R$ 600,00 pela realidade do país) não vai dar. Com este pensamento na cabeça entrei no escritório de minha chefe e pedi para que me deixasse trabalhar full-time, por exemplo ao invés de eu receber €10,00 por hora começar a receber €20,00 e eu trabalhar para ela full-time em troca disto. Tenho a prática de rezar todas as noites e como espero que já tenham reparado neste blog, eu dificilmente rezo para mim, mas desta vez eu rezei. Pedi para que Deus me ajudasse e que ela visse que eu trabalho direito e tenho domínio sobre minha profissão e decidisse ficar comigo pelo período integral. Demorou dois dias, (sábado e domingo) mas Ele atendeu minhas preces, porem de maneira diferente, recebi uma carta dizendo que sou um ótimo profissional e etc, por causa disto eles resolveram me dar um aumento, porem não poderei trabalhar full-time, mas já conseguirei pagar meu aluguel, da nova casa. Pois afinal agora eu moro na zona sul, do outro lado do rio Lifey, uma casinha apertadinha, com apenas um quarto, mas pra mim, é muito grande, porque é do tamanho da minha felicidade. Se estou feliz? Você não tem idéia reparei que mesmo aqui na Irlanda, sem o reflexo de ninguém, eu ainda sou o bom e velho Paulo, Pool, Paulinho, Kaká e assim vai, pois não importa o nome, sou eu mesmo sempre.


Envie seu comentário pessoal para paulo.e.lopes@globo.com
Este foi um comentário muito bem humorado e muito inteligente que recebi, mas só posto as que forem autorizadas ok!


Olá Paulo,Estava fazendo um trabalho para faculdade e por acaso descobri seuBlog, o que me chamou a atenção foi o Seu nome: Paulo Lopes nome deradialista da AM aqui de SP... lembro que qdo era criança minha mãeouvia um programa que chamava "Programa do Paulo Lopes", eu nem sei seexiste ainda, mas foi isto que me fez entrar no seu blog...Comecei a ler e fui me envolvendo nas histórias, muito boas por sinal.Algumas me fizeram gargalhar, outras me interessar pelo assunto,tiveram ainda, as que me arremeteram a minha infância, a formaçãooriginal da minha familia...Adorei a forma que você escreve, que você se expressa. Lendo seustextos, até parece que já te conheço. É interessante isto, rsrsrs émuito engraçado... (Você já assistiu o Auto da Compadecida?, então:tem uns trechos no qual o Chicó conta as histórias dele, e semprequando ele conta aparece uma representação bem tosca da história namente dele... rsrsrs, então, comigo é igual...rsrsrs)Sou coordenadora administrativa numa escola de inglês para executivos,estes cursos rápidos de 12 meses. Não sou muito fã de inglês, soupeguiçosa, impaciente, mas se você fala inglês realmente você sai nafrente.Gostei tanto das suas histórias que comecei a divulgar seu blog paraos amigos e alunos. Gostaria de colocar algumas das suas histórias nomural aqui da escola, tipo crônicas, saca?Posso?Um abraço, e um beijo. Que a força esteja com você!Tatiane A Almeida***Ps: Sobre Paulo Lopes, radialista: Lembro como se fosse hoje, minhamãe ouvia Paulo Barbosa, Paulo Lopes e depois Paulinho Boa Pessoa,era uma overdose de Paulos, será que para ser radialista dafrequência AM tinha que se chamar Paulo?Quando eu era criança achava isto, da mesma maneira que achava que erasempre a última da chamada na escola, porque minha mãe insistia em irrenovar a matricula do meu irmão antes de renovar a minha (meu irmãoCleber era sempre o numero 3 ou 4 e eu Tatiane era sempre o número 40ou 42). Coisa de Criança, mas fiquei com complexo até entender comofuncionava este mecanismo