segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Em voz baixa

Talvez o texto que mais tenha me emocionado desde que comecei a escrever no blog, foi “A missa”, neste retrato o habito dominical em um país marcado pelas diversidades religiosas entre católicos e protestantes, claro relacionando com minha vida.
Como me mudei para Dublin 8, em um bairro muito próximo de Rathmines, freqüento outra igreja, e a missa não tem a mesma força que possuía a do centro de Dublin, portanto, muitas vezes quando a Clara vai dormir e eu continuo acordado, pois não sinto o menor sono as 10h da noite, pego a Bíblia e faço uma leitura. Lucas, Marcos, Mateus e João, realmente mexem comigo, porém o texto que mais leio diz o seguinte:
Paulinho,
Esta Bíblia é para seus momentos com Deus e lembre-se “Ele” sempre está onde você estiver, e eu também estarei contigo em pensamento e em minhas orações. Te amo filho, lute e seja feliz.
De sua amiga, mãe e tudo mais que você tem dentro de seu coração. Regina 24.01.08
Ao terminar este pequeno texto já me sinto preparado para começar a leitura, não leio de forma desordenada, e também não leio como se fosse “A Palavra” leio como um livro que sinto prazer em ler gosto de comparar os textos dos evangelistas por exemplo. A assim em pensamento me sinto mais próximo de Deus. Porém este final de semana tirei a preguiça da minha casa e fui até o centro para assistir a missa, e esta, como é especial.
Ao entrar já senti o cheiro de incenso e as velas dando um tom de romantismo à entrada principal, uma moça muito simpática lhe oferece o folheto da missa, com um sorriso bem largo e dizendo:
- Seja muito bem vindo à casa de Deus. (em inglês, claro)
Após encontrar um lugar, reparei que o quarteto da liturgia estava lá, e se da primeira vez que fui a missa não compreendia o que eles cantavam, agora posso me sentir orgulhoso.
A língua deixou de ser um bicho de sete cabeças pra mim, agora na verdade ela só tem três cabeças: Passado, presente e futuro, mas já me sinto confiante em um diálogo ou até mesmo em um debate.
Encontrei meu amigo Síndico na missa e reparei o tanto de brasileiros que estavam lá, de certa forma me senti mais aliviado. Entender palavras como “joio” em inglês, é muito difícil, portanto, muitas vezes tento relacionar o evangelho em inglês e puxar na minha memória, qual é esta passagem, até porque assim como em nosso idioma, a Bíblia em inglês, possui uma linguagem muito antiga.
A missa começou fechei meus olhos e a cada minuto que ficava ali sentia que estava recuperando minha energia, eu já estava perdendo minha identidade, não poderia me curvar diante dos problemas, tenho sim que aprender a enxergar as coisas por outro ângulo, estava me corroendo, nunca havia ficado em casa em quanto os outros vão trabalhar e eu juro, isto não é minha vontade. Ainda em oração vejo minha namorada se emocionando com suas orações e meu amigo orando após a comunhão. E tudo que pensei foi: Que este pedaço de pão seja capaz de alimentar toda a nossa alma.
O tempo que fiquei aqui foi muito bom para eu aprender a me avaliar, pois nós projetamos a pessoa que nós queremos ser, mas há uma diferença da pessoa que nós nos mostramos, se queremos passar segurança, podemos ser interpretados como enrolador, se queremos passar firmeza, podemos ser interpretados como rude e se queremos passar convicção podemos acabar passando arrogância.
Portanto o tempo que estou ficando aqui, está me servindo para aprender mais do que inglês, eu estou aprendendo a me encontrar, a saber, quem sou e como conseguir me levantar após um tombo de auto-estima. Neste caso, gostaria de compartilhar, a minha carta favorita de São Paulo apóstolo e adaptada por Renato Russo.

Ainda que eu falasse a língua dos homens,
Ainda que eu falasse a língua dos anjos,
Sem o amor, eu nada seria.

E eu não sou um nada, porque amo muito.
Fiquem com Deus

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Enquanto isto

Não é fácil arrumar um emprego no mês de agosto, e em verdade, eu nem estou mais procurando, graças a Deus consegui juntar um valor razoável para viajar com folga, o máximo que acontecerá, é que ao invés de tomarmos vinho em Paris, tomaremos água mesmo.
Compramos passagem para todos os destinos muito antes, sendo assim conseguimos um preço bem legal, e como não gosto do clima de aeroporto, dei preferência a viagens de trem, além de curtir a paisagem poderemos desfrutar de algumas bebidas a bordo.
Em todas as cidades que ficaremos dormiremos em Hostel, para quem não sabe, tratasse de uma espécie de Abrigo ou Albergue, onde você divide quarto com outras pessoas, em geral o quarto possui seis camas, e a média por noite é £ 18,00 euros por pessoa, como não podemos levar muita mala, uma vez que teremos que carregar para cima e para baixo, iremos adotar a famosa mochila. Daí o nome Mochilão. Em muito locais e em geral em aeroportos, rodoviárias e terminais ferroviários, se encontra o famoso “LOCKER”, sabe aquele armário que o terrorista sempre coloca a bomba, ou guarda o dinheiro nos filmes de Hollywood, pois bem, eles existem e são muito úteis para te poupar de carregar peso.
A refeição é outro desafio, o restaurante mais famoso do mundo, que fora do Brasil possui seu apelo muito mais pro popular, do que para o infantil, ou seja, o McDonald’s, com certeza fará parte de nosso cardápio. Muitas vezes a diária do Hostel está inclusa o café da manhã, com isto sobra alguns trocadinhos pra “quem sabe” abusar um pouquinho em uma refeição durante a semana, por refeição é feita uma média de £ 8,00 por pessoa.
Outro desafio a superar será a lavanderia, ou melhor, a falta dela, levar barbantes ou qualquer tipo de cordinha também é uma boa dica, assim poderemos lavar roupas de baixo durante o banho e colocá-la pra secar durante a noite. É difícil, mas não sei se terei outra chance de fazer uma viagem destas, e o melhor e curtir.
Gostaria de agradecer a todos pela companhia e também mandar um abraço especial para a Geise e o Tio Antônio.
Os. Desculpe a demora de atualizar, mas já cortaram minha internet!!! E vida!!!

terça-feira, 12 de agosto de 2008

O princípio do fim

Recebi na tarde de quinta-feira um e-mail que me animou, me deu esperança em arrumar um emprego, em verdade só tenho mais dois meses aqui, e sei que não serei um bom negócio para a empresa, pois quando eles terminarem de me treinar para o novo ofício eu já terei que partir. O e-mail era claro e pedia minha presença na segunda feira no Shopping Stephens Green para uma entrevista.
Apressei-me, passei minha camisa de botão e fui até o shopping “Just on time” de começar. Ao entrar na praça de alimentação pedi informação a um garçom e este me conduziu até o andar superior, onde deveria procurar uma moça chamada Sharon, ao me apresentar esta me deu um formulário e pediu para que me sentasse e preenchesse, reparei que todas as pessoas no andar que eu estava, tinha um papel similar ao meu, e todos esperando uma oportunidade de conversar com o entrevistador.
Cem pessoas, este foi mais o menos o número que vi na fila de empregos, fiquei cerca de 90 minutos esperando para uma conversa de não mais que 8 minutos, comecei quebrando o clima de uma entrevista padrão e creio que me saí bem, e pela primeira vez me vi do lado de lá da mesa, é uma ótima experiência com certeza. O entrevistador leu meu currículo de cabo a rabo e este me perguntou:
-Por que você quer trabalhar em uma empresa de alimento se você possui um know-how muito bom na área gráfica?
-Sou jovem, e creio que se devo mudar, tem que ser agora, portanto escolhi fazer um teste.
Após outras perguntas encerramos a entrevista e me dirigi para a Grafton Street, uma rua muito movimentada aqui, e nela reparei uma humilde loja de gravatas precisando de atendente, pensei: Eu posso ser um vendedor de gravata, afinal de contas, creio que vender cópias seja mais difícil.
Entrei na loja e o atendente estava ocupado, ao esperar o atendimento reparei uma outra pessoa entrando na loja e esta ficou vendo o preço de tudo. Cheguei ao lado dela e perguntei: -Posso ajudar¿
-Só estou dando uma olhadinha.
-Qualquer coisa estou ao lado.
Poucos minutos depois a moça foi embora e o atendente se desocupou, de fato ele nem viu o que eu havia feito, apenas viu que eu havia falado com a moça. Ele pegou meu currículo e me perguntou sobre a disponibilidade de horário, e sinceramente sinto mais firmeza nesta empresa do que na outra que me pareceu gigantesca e que eu jamais iria conhecer o dono. Meu objetivo é aprender, e prefiro trabalhar em uma empresa pequena e ter contato com os gerentes e proprietários, do que trabalhar em uma empresa grande que meus superiores ficassem evitando meu crescimento.
Eu enviei meu currículo a todas as gráficas de Dublin e nenhuma me respondeu, então fui pessoalmente em cada uma levar meu currículo e me apresentar, e mesmo assim, não obtive sucesso, ainda, claro.
Esta foi apenas minha primeira tentativa, e enquanto tenho meu tempo livre aproveito para fazer os estudos da Tesouro e os meus planos de viagem. O itinerário nós já temos e estou pensando o quão emocionante será escrever de 4 em 4 dias sobre países totalmente diferentes, dificuldades que certamente surgirão e culturas e hábitos, que pelas minhas palavras me esforçarei ao máximo para levar vocês comigo nesta viagem.
Edimburgo, Escócia (terra do Coração Valente, uma cidade que possui um castelo medieval bem no centro)
Londres, Inglaterra (terra rica em história, onde a monarquia prevalece)
Paris, França (terra dos vinhos, do charme, a cidade mais visitada do mundo)
Roma, Itália (terra do Papa, eu o visitarei no dia do meu aniversário)
Veneza, Itália (temos que visitá-la enquanto ela inda não sumiu)
Berlin, Alemanha (terra do muro, de boa cerveja e povo hospitaleiro)
Amsterdã, Holanda (onde a maconha é legalizada em bares próprios)
Zurich, Suíça (a extensão da minha casa)
Começa dia 04 de outubro, caso tenha algum lugar que possam me recomendar dentro destas cidades, por favor.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Cabisbaixo

Faz muito tempo que não tinha um momento de fraqueza como este que sinto agora, me sinto incapaz e em verdade uma chuva forte me prende dentro de casa evitando que eu distribua meus currículos.
Sexta-feira foi meu último dia de trabalho, após o expediente, nos dirigimos ao PUB ao lado, para celebrarmos, como se houvesse motivo de felicidade, e em verdade nem sabia o porque estava brindando, talvez eu só consiga entender agora.
O sentimento de estar sem trabalho é horrível e o que mais perco com isto é que não treinarei inglês, tanto quanto treinava antes. Consegui um avanço muito rápido no idioma, devido à facilidade que tive em conseguir um emprego que falava toda a hora.
Adoraria procurar algo, na área comercial ou mesmo sendo vendedor de uma loja qualquer de roupa qualquer, em um shopping qualquer, mas todo o meu currículo é direcionado para gráfica. Isto me faz lembrar de quando tinha 17 anos e conversei com meu pai sobre a possibilidade de mudar de área, sem eu perceber, ele me provou que amo meu trabalho.
Agora como você se sentiria se você não pudesse estar com quem você ama? Como você se sentiria se você não pudesse estar no lugar que ama? E como você se sentiria se você também não pudesse fazer o que ama? Assim estou ou sou eu, neste exato momento.
Com a falta de recursos, nós aprendemos que podemos nos divertir com pouco, apenas uma noite jogando baralho com amigos já é um evento, um simples churrasco, aqui é algo de extremo valor, então, vejo que não posso reclamar, já que até participei de um churrasquinho no domingo. Segunda, foi feriado, e hoje terça-feira, é meu primeiro dia da semana, o que eu também não quero ver como feriado.
A falta da minha cama, a falta da minha família, a falta de um chuveiro bom, a falta de pão francês com manteiga e café com leite, a falta de arroz com feijão, a falta da tesouro. Nesta hora reparo que o nome da nossa loja, não poderia ser melhor, pois é exatamente isto que ela representa a nossa vida.
A chuva diminuiu, devo me apressar.