terça-feira, 29 de julho de 2008

Mais do que idioma


Fomos a Galway, novamente este final de semana. Muito sol, passeamos por toda a costa atlântica do condado de Claire, porém com outros amigos, que ainda não conheciam a pequena cidade e em verdade, nem nós mesmos conhecíamos, pois não parava de chover um instante na outra vez. Thiago, Maíra, Murilo, Juliana, Clara e Eu. Pegamos o carro na sexta-feira à noite e devolvemos no domingo. Já estou me acostumando com a mão invertida do trânsito, também já não olho mais com tanta estranheza, o volante do outro lado.
Ficamos em um B&B (Bed and breakfast) muito limpo e bonito também, e uma senhora muito simpática nos recepcionou. Ao ver que nós falávamos inglês, ela perguntou:
- Vocês são da Itália?
- Não somos do Brasil.
Abriu-se um sorriso na face da mulher e esta mudou até mesmo a entonação de voz conosco.
- Desculpe, é que normalmente os brasileiros que conheço não falam inglês, e vocês têm uma pronúncia muito boa. (ta certo que só a Maíra falava com ela, e ela realmente tem um inglês muito bom).
- A menina que limpa aqui também é brasileira (neste momento entendemos porque a casa estava tão limpa).
- Ela mora em Gort, vocês conhecem?
- Não nunca fomos pra lá.
- Gort é uma cidade aqui perto, que um terço da população é brasileira, normalmente eles vem pra trabalhar em frigorífico.
Tivemos curiosidade e resolvemos visitar a cidade. Chegando lá encontramos a loja “Real Brasil” nela os atendentes não falavam inglês, marcas de cerveja brasileira, Guaraná Antarctica, feijão e carnes no corte brasileiro.
Conversamos com alguns moradores, e reparamos que os brasileiros eram metade da população. Não conheci ninguém que falava inglês, em verdade, estes já não eram mais estudantes, todos eram trabalhadores de cidades pobres no Brasil que imigraram, para a Irlanda preferindo viver ilegalmente, porém ganhando o suficiente para viver.
Conversamos com um rapaz, com um português bem arrastado, que nos falou, que a maioria das pessoas que estavam na cidade eram de Anápolis em Goiás, cerca de 1500 brasileiros faziam parte da população de quase 4000 moradores da cidade, este também havia largado pra trás sua filha, que há quatro anos ele não a vê, e senti emoção em suas palavras quando nos contou sua estória.
Isto me fez lembrar de minha própria estória, das pessoas que deixei pra trás, mas em breve, muito em breve reencontrarei, da Tesouro, que é a melhor e mais completa copiadora que já entrei e por falar em copiadora.
Chega ao fim, minha experiência na Prontaprint. Dave, meu chefe resolveu não renovar comigo por mais dois meses, pelo fato do movimento estar fraco, realmente há dias que fico 4 horas lá sem fazer uma encadernação se quer, e entendo o ponto de vista dele. Agora ficarei dois meses mais até começar minha turnê pela Europa, sem emprego. Já mandei alguns currículos, pra não ficar zerado de dinheiro até o dia 4 de outubro, data em que começa minha saga, isto nos dá uma crise de identidade, nunca passei pela experiência de estar desempregado, de ter que entregar currículos na rua, de fazer as contas que normalmente faço pra contabilizar os gastos da Tesouro, para contabilizar minha refeição diária. O que eu aprendi aqui, faculdade nenhuma ensina, o que aprendi em seis meses, pessoas demoram a vida toda pra perceber e outros já nascem sabendo, por isto arregaço as mangas, pego minha pasta e vou a luta, afinal de contas, eu rezo todas as noites para que seja feita a vontade Dele e não a minha, mas eu tenho que fazer a minha parte.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Dias de Sol

Como vocês já devem ter reparado, não há muita oportunidade de contemplar o sol, na Irlanda, porém este final de semana foi diferente. Mesmo com sol sempre devemos levar nossos casacos e blusas, o guarda-chuva, também parte fundamental do traje irlandês, estava presente.
A Irlanda é a terra mais fértil da Europa, mesmo assim, importa todos os produtos. A batata, maior fonte de alimento na Irlanda também é importada, assim como a energia elétrica, que vem da Rússia e muitos outros produtos. Qualquer um que olhe para este diagnóstico, concluirá que a Irlanda é um país pobre, sem futuro, não possui petróleo, não possui terras o suficiente para plantações e não possui energia elétrica, mas ao contrário disto a Irlanda é um país curioso, pois a maior parte da economia é gerada pelo setor de serviços, o que é um prato cheio para um estudante de marketing.
A mão-de-obra é cara e sinceramente eles não se ligam muito na qualificação profissional, em uma maneira geral não procuram evoluir, ou lutar para conseguir melhor emprego, afinal de contas eles falam inglês, e isto já basta para conseguir um emprego razoável.
Franquias de muitas lojas, tanto que trabalho em uma franquia de impressão, é impossível percorrer dois quarteirões sem encontrar uma loja “SPAR”, “Bagel Factory”, “O’Briens” e assim por diante, normalmente tendo como funcionários, imigrantes e na maioria dos casos poloneses.
A Polônia possui 40 milhões de habitantes, sei que em relação a Brasil é um pouco mais que a população do estado de São Paulo, porém, por se tratar de Europa, este número é gigantesco. Com a entrada da Polônia na União Européia, eles receberam livre acesso para qualquer outro país do bloco europeu e já representam 10% de toda a população na Irlanda, porém os países que mais sofrem com a imigração polonesa são: a Suíça, a Áustria e a Alemanha. Saindo um pouco da Europa, estimasse que 1/6 da população de Chicago nos Estados Unidos também sejam poloneses, alguns jornais tratam o assunto como “A Epidemia Polonesa”. Uma vez que eles não podem barrar um polonês na entrada de seu país com barram um brasileiro ou um maurício.
O salário mínimo por hora é €8,60 tendo um passaporte ou tendo visto de trabalho aqui, o limite de horas trabalhadas por semana são de 40, gerando um montante de €344,00 por semana, ou €1376,00 por mês. Dinheiro suficiente para pagar um aluguel, comprar comida e ainda juntar uns €300,00 em alguma aplicação. Um carro usado em bom estado custa na faixa de €1000,00, ou seja, juntado dinheiro uns 3 meses já conseguiria ter seu carro, uma realidade muito diferente do Brasil.
Creio que pela nossa economia ser tão predadora, nós brasileiros estamos acostumados a trabalhar e estudar, sempre, não importa o que aconteça, se você ficar seis meses sem estudar, será passado pra trás, se não tiver inglês, perderá uma vaga importante na empresa, se não tiver faculdade não conseguirá ganhar mais que R$ 1000,00 e se não tiver pós-graduação não terá chance de mostrar seus adjetivos, ou seja, lutamos uns contra os outros e muitas vezes contra si mesmo, para não sermos mais um no metrô, e se você quiser entrar neste vagão terá que empurrar alguém e diminuir seu espaço.
Mas este sábado fez sol, e eu continuo aqui correndo atrás do meu lugar nele.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Mudança Climática

É impressionante como o clima do ambiente pode influenciar no humor de seus habitantes. Aqui na Irlanda o tempo é sempre feio, temos cerca de 360 dias de chuva e os outros dias sol, intercalados durante as estações. O anoitecer na Irlanda, no verão, acontece por volta das 22h, horário que confunde muito minha cabeça, pois como viemos do Brasil e eventualmente, este horário chego em casa, temos a sensação de ser realmente 18h, curiosamente é o horário no Brasil, porque o fuso horário é 4h à mais.
Fomos para um churrasco no sábado, em verdade muito diferente do que nós estávamos acostumados, porém muito divertido. Aqui não se encontra sal grosso, o corte das carnes é diferente, não mudando apenas o nome, mas também o jeito de prepará-la. Sirilon, é muito parecido com o nosso popular contra-filé, o Sirilony, é um pedaço da picanha com a maminha, e o fast fry, é a alcatra. Agora imagine quanto nós não tivemos que errar para aprender isto, mas pra que ficar falando nisto, se não temos dinheiro nem para comprar um Acém ou Patinho¿ Pois bem, juntamos um dinheirinho e compramos carne, lingüiça, cerveja e vamos lá.
Uma noite de sábado típica dos eventos no alto de Mairiporã, onde a chuva também aparece com freqüência, por um instante, apenas um instante, me senti em casa.
Por falar em casa, minha irmã se mudou, e reparei que, quem mais está sofrendo com a mudança é a Tia Lourdes, porque levaram a menininha que estava colorindo nossas vidas, mas em especial a dela.
Um dia meu Tio Kleber me falou a seguinte frase: - Nossa vida é fechada em ciclos de cinco anos, de cinco em cinco anos tudo muda! Este foi à última vez que fui na casa dele, era natal e estávamos no Guarujá à exatamente cinco anos, e como nossas vidas mudaram.
Eu nunca nem em meus momentos de devaneios me imaginei morando no Rio, não imaginei minha mãe separada de meu pai, não imaginei que minha irmã estivesse casada, não imaginei que a casa que projetamos e lutamos nossa vida inteira ficaria largada e nunca me imaginei na Irlanda ou morando fora do país.
Agora quer saber o pior de tudo? É que tem gente que ainda fala que sou criativo. Isto é, imagino coisas!
Pense um pouquinho! Aonde e como você estava à cinco anos atrás?

terça-feira, 8 de julho de 2008

Notícias

Nesta noite de Terça-feira fiquei atualizado das notícias cariocas. Em verdade mais especificamente a um dado, o acontecimento a seguir passa-se na Rua Conde de Bonfim, Tijuca Rio de Janeiro, onde dois policiais alvejaram um carro e neles se perdera uma vida, uma vida que tinha muito pela frente com certeza. Fico revoltado a ver coisas deste tipo na cidade onde moro, ou costumava morar, é impossível não derramar lágrimas ao receber uma notícia destas pela Internet, e ver a comoção de seus familiares. As pessoas que são pagas para nos proteger de repente estar-nos caçando assim, e nesta guerra infinita entre bandidos e bandidos fardados aparece a sociedade.
E neste momento surge-me um sentimento que há muito tempo eu não sentira, revolta, será que sou contra meu próprio país?
Não sou apenas totalmente contra nós mesmos, pois nós colocamos um bando de despreparados a governar nosso país e nós votamos nos malditos dos vereadores e deputados que deveriam ter a obrigação de defender nossos interesses. E nós nem se quer sabemos qual a diferença entre deputados e vereadores.
Neste momento fico imaginando que a dor que sentiu aquelas pessoas, poderiam ter ocorrido com qualquer um de nós, ou pra ser mais exato de mim, basta não ter ido a Dublin, e resolver fazer um curso de extensão na Veiga e pronto, possivelmente seria eu, afinal meu carro é preto. O Brasil não existe pena de morte, mas eles ainda continuam atirando pra matar.
Uma vez eu tomei um enquadro da polícia irlandesa, e com toda a educação me perguntaram: -Você tem documento?
Se algo desta monstruosidade viesse a acontecer aqui na Europa, por mais insignificante que seja o país no contexto europeu, com certeza aconteceria algo, mas no Brasil tudo que vemos é: - Cuidado, você pode ser o próximo!
Á um tempo atrás um brasileiro foi assassinado em uma estação de metrô em Londres, este foi alvejado por sete tiros, se não me falha a memória, em suspeita de terrorismo. Nós brasileiros não temos a palavra terrorismo em nosso vocabulário, e por isto, a rainha assinou um pedido de desculpas e medidas para que isto não acontecesse novamente foram tomadas ou ainda estão sendo é verdade, porém uma coisa é certa apenas ouvi uma notícia de morte hoje no rádio, e este alguém foi um menino brasileiro de três anos de idade, torcedor do Fluminense, ou seja, tricolor, assim como eu.
Verás que um filho teu não foge à luta, Nem teme, quem te adora, a própria morte.