Eu e a Clara não conseguimos pegar o mesmo vôo, ela foi doze horas depois de mim, fazendo escala por Frankfurt e eu fazendo escala em Amsterdam. Meu vôo foi super tranqüilo, e senti a diferença em poder me comunicar em inglês, pois fiquei nove horas conversando com um gringo sentado a meu lado.
Duas filas estavam formadas para o controle imigratório, e para minha surpresa a fila para brasileiros era muito menor, não tem como esconder, pela primeira vez senti um sorriso de vingança moldando meus lábios. Estava distraído quando ouço: - Próximo! Nossa fazia tempo que eu não ouvia português e este foi meu primeiro contato com o idioma, logo após suspirei e pensei: - Estou em casa.
O governo brasileiro nos manda uma ficha a ser preenchida ainda dentro do avião dizendo que você não possui nada a declarar, o máximo de mercadoria autorizado a entrar no Brasil é no valor de quinhentos dólares, ou seja, nada.
Passando pelo controle alfandegário, me dirigi a uma porta de vidro que de repente se abre e ouço um grito de comemoração, reconheço as vozes e vejo um punhado de pessoas familiares que minha lembrança ainda se recordava, fiquei anestesiado, sem reação, mas foi muito legal.
O carro era outro, algumas pessoas foram pegas por determinadas rugas nos cantos dos olhos, uns mais magros, outros mais gordos, e reparei que não foi só eu que havia mudado, o mundo ainda continuava girando do lado de cá do planeta.
Fui para casa, e ao entrar chorei muito, pois só quando pisei em casa é que me dei conta que havia voltado, o sonho acabou, agora eu tenho que ser forte. Comi pizza paulistana, dormi cerca de seis horas e me dirigi ao aeroporto para buscar a Clara, eu, minha mãe e o Marcelo fomos dar as primeiras boas vindas.
No sábado um churrasco já estava organizado para nossa recepção e este foi muito especial, costela de boi, picanha, contra-filé, frango, alcatra e claro muita cerveja. Uma roda de pagode “Simplisamba” dava um toque de Brasil a nossa festinha, farofa, arroz, feijão, capricho e muito amor, também fazia parte do cardápio. ( veja vídeo no youtube)
Assisti a vitória do São Paulo na casa do meu amigo Cleber como nos tempos de antes, e depois tratei de colocar material no carro e ir para o Rio de Janeiro.
Pouca coisa mudou por aqui, chegamos por volta das 3 da manhã domingo e o som do funk no morro do Turano ainda estava bem alto, ecoando como uma bomba, uma bomba de mal gosto e desrespeito, uma vez que as letras, bom você sabe. Passado alguns minutos o tiroteio começou e pronto, senti muita falta da Irlanda, onde o perigo é apenas tomar alguns bofetões de adolescentes vagabundos, mas que em qualquer favela do Rio não passa de uma moça indefesa.
A loja do Rio está muito bem, minha mãe muito feliz com seu namorado, meu pai aparentemente se estabilizou com a nova família dele, mas não esqueceu de nós, minha irmã indo bem de vida de casada com o Leco, minha sobrinha super linda e engraçada, ela não tem mais cara de neném, já possui cara de criança, meu irmão na faculdade e eu vendo o que perdi e o que ganhei com esta saída. Um passo muito importante da minha vida, cresci muito nestes últimos dez meses, vi paisagens fantásticas, aprendi um idioma, aprendi a me virar e aprendi a gostar de mim, de forma natural, nestas 77 postagens, que me esforcei para escrever e a transmitir para todos minhas dificuldades, sentimentos e etc. me serve de marca página, pois se algum dia eu estiver confuso com o próximo passo de minha vida, me lembrarei sempre do passo irlandês, me lembrarei sempre de vocês, me lembrarei de cada semana que passei do outro lado do Atlântico, me lembrarei de mim.
E este sim é um ponto final, pois toda história tem um começo, um meio e chegamos agora a um fim.
E esta foi minha declaração para o passoirlandes.blogspot, agora deixe a sua.
Vejo vocês em minha próxima aventura, até lá guardarei meu casaco.
Obrigado pela companhia
Tchau